Pelas marquises
Tudo percorre em câmera lenta. Ele a olha rodopiar na ponta dos pés em tom de brincadeira enquanto andam em baixo de um teto alto, na zona histórica da cidade. O músico de rua toca uma música francesa famosa no acordeão e o cheiro da noite se mistura com sorrisos capazes de parar o tempo. Imagina que tudo aquilo é um sonho e de repente BUM (!), seus olhos fixos na cena mais bonita de todas são interrompidos pela parede da pilastra, que vem de encontro a sua cara.
Meu Deus, como sou desastrado, pensa no dia seguinte quando acorda atrasado para o trabalho. Olha o olho roxo no espelho antes de pegar o trem lotado.
Mais um dia tentando ser algo que não sabe se quer ser. Mais um dia tentando superar as expectativas.
“Você disse que tinha um encontro com a mulher da sua vida ontem e voltou pra casa com o olho roxo, deve ter sido bom!” - riem alto durante o almoço.
Na hora de ir embora aguarda uma mensagem que nunca chega e resolve tomar a iniciativa de se desculpar pela noite anterior.
“Oi, desculpa por ontem, queria que a noite tivesse acabado de outra forma.”
Nada de resposta, hora de ir para o mesmo bar de sempre, falar com os mesmos rostos e fingir que não se importa.
Mas é no táxi de volta para casa que o celular apita e o universo em sintonia lhe abraça.
“Eu achei você um fofo, era algo que certamente aconteceria comigo. Quer vir aqui pra casa?”
- Com licença senhor motorista, podemos mudar o destino?
E a vida sorri para os desajustados.